quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Viagem em Cólicas

     Viagem em Cólicas


     Esta não é apenas mais uma estória estranha, é sim, a mais estranha viagem de férias já relatada por uma família de pessoas quase normais, que vocês terão a oportunidade de conhecer durante esta, mais adiante.

     O que importa, por hora, é esta chance de nos colocar atentos e refletir de que maneira contundente, uma viagem de férias pode nos revestir de boas recordações, ou nos levar à loucura confortante pelo resto de nossas existências.

     Bem, vamos aos fatos (ou seriam apenas produtos desconexos de mentes perturbadas tais acontecimentos?), me foi dito o seguinte, uma família de classe média, composta por um pai e duas filhas (Grandes amizades que foram heranças de um desses casamentos falidos, que aprenderam a viver norteados por valores de amor e de respeito mútuo), viviam felizes e lutando pela felicidade, como todas as pessoas de Bem.

     Paolo, funcionário público, sonhador (de pé no chão) já atuava na área de seguridade social a mais de 30 anos e ansiava pela aposentadoria, para poder dedicar-se à sua verdadeira vocação, a Arte da Culinária. Em concordância com as suas filhas resolveu partir nos meados de 2009, para uma viagem de férias, ficando decidido que esta aconteceria pelo interior de um dos mais belos Estados do Sudeste brasileiro e lá foram os três, muito animados. Cacá, a filha mais jovem, linda, alegre. Digna, aficcionada pelas Artes Plásticas, talentosa Pintora Artística, toda agitada só imaginava como seria proveitosa esta viagem para a sua Alma de Jovem Artista, fora o prazer de estar se divertindo junto com as pessoas que mais ama no mundo. Naná, também jovem e bela, Escritora e Crítica Literária, alegre e extrovertida, porém, às vezes sentia-se como se não pertencesse a estes tempos, a este século (coisas de intelectuais) mas era muito focada em seus objetivos e destemida para a Vida.

     A verdade é que estes três personagens eram muito centrados, mas, não deixavam de curtir uma boa aventura, assim, partiram rumo a seu destino traçado (ou não). Resolveram viajar por terra e de ônibus para aproveitar mais o passeio, conhecer lugares secundários por onde tal condução teria de cumprir trajeto. Até que estava divertido, embora cansativo.

     Enfim, chegaram depois de horas de viagem, ao seu primeiro lugar planejado, uma cidade do interior, mas com aquele jeitão de cidade grande, com todos os prós e contras das cidades emergentes, ficaram um pouco decepcionados, pois embora simpática não era o que eles estavam buscando (a tal INTERNET os traíra), bem, resolveram então dali mesmo ir para uma outra cidadezinha, mais no interior ainda do tal Estado (Afinal o que buscavam era sossego e fragmentos da História de seu amado Brasil) e foram.

     E roda, roda, passa tempo, as horas voam, tal ônibus entra e para em cada uma das cidadezinhas, que mais parecem cidades fantasmas. Chegaram. As meninas apreensivas, o pai com cara de que não estava acreditando no que estava vendo. Sim, diante deles estava uma cidade, dessas que não se pode dizer com certeza o que é, aliás, nem o povo dela saberia responder em que categoria de lugar ela melhor se enquadraria. Com o dia apagando, exaustos, decepcionados e com fome, saíram à procura de um hotel para hospedar-se até o dia seguinte. Que felicidade! Encontraram um junto ao centro, com o criativo nome de Palácio, instalaram-se por cansaço, até era baratinho, também, um tanto suspeito, quartos minúsculos, sem ventilação e o café da manhã (melhor nem comentar).

     Amanhece, vagam pelo tal lugar tentando entender aonde vieram parar, afinal era para ser uma cidade histórica. Mas que História? Tratava-se apenas de uma cidade fria, de um povo nada acolhedor onde o que viram foi uma triste praça abandonada, que chorava uma tentativa de amor à Cultura e uma casa humilde, também abandonada, cerrada e encerrada em total desprezo sepulcral, irônicamente, onde morou um dos grandes poetas: Augusto dos Anjos, casa esta, hoje sem respeito e sem carinho, povo sem memória, sem passado e sem futuro. Estes foram os sentimentos com que os três deixaram este lugar.

     Agora sim, sem erros, sem sustos, partiram com destino às cidades mais conhecidas históricamente. Sabiam que era longe, mas estavam dispostos a remediar todos maus momentos vivenciados até alí. Roda, roda, passa tempo, as horas voam, chegam a uma cidade bem próxima à cidadezinha de destino, mais uma cidade de interior com jeito de cidade grande, bem, esta não importava para eles, pois mal saltaram do ônibus na rodoviária desta cidade, já embarcaram em outro ônibus, que os levaria ao destino tão esperado.

     Era "pertim", a viagem agradável, a boca da noite já ia engolindo o simpático vilarejo quando os três desembarcaram na minúscula rodoviária, olhavam ao redor e viam quase toda a cidadezinha, história preservada, povo pacato e acolhedor, sossego e várias atividades Artísticas, logo viram uma pousada bem simpática, foram bem recebidos, era carinha, mas tinha um bom apartamento, limpo, com janelas amplas, um bom café da manhã e assim se instalaram, depois de um belo banho quente e um bom jantar em um dos melhores restaurantes do lugar, dormiram pesadamente.

     A noite para nossos três personagens, nunca passou tão rápida (praticamente um piscar de olhos) logo estavam passeando pelo lugar, andando de charrete, de trem puxado por uma antiga Locomotiva e ouvindo as narrativas dos guias turísticos. Foi então que eles começaram a se preocupar com certos acontecimentos. Estranhamente a condutora da charrete ia pelas ruelas acidentadas e pavimentadas com blocos de pedras lascadas, aos solavancos e alta velocidade, em várias esquinas entrava quase capotando tal condução, que era puxada por um indomado cavalo vermelho, de olhar endemoniado e com um nome muito suspeito de Falcão. E naquilo que mais parecia uma máquina de tortura do que um passeio iam os três, Cacá não parava de rir nervosamente, Naná com sua câmera digital tentando registrar o que fosse possível (quase nada), Paolo na frente ao lado da condutora (lugar que conquistou após uma dura escalada charrete acima com seus quilinhos a mais), lutava para não ser arremessado pra fora da charrete.

     A insana condutora, sempre em disparada, hora balbuciando frases incompreensíveis, hora aos berros dizia coisas absurdas e ilógicas sobre a história (ou aquilo que seria a história do lugar), entre tantas informações malucas por ela passadas, estas os deixaram ligeiramente desconfiados que algo não ia bem, dizia a condutora e guia, que o povo adora aquelas ruelas e seu pavimento, que aquele animal da charrete era dócil, mostrou a Rua Direita (que na realidade encontra-se à esquerda) dizendo ser a rua principal da cidade (mas que na realidade não tinha um só comércio aberto nem uma só residência habitada). Disse ela ainda, que o históricamente conhecido Cirurgião Dentista que deu nome ao lugar, não era Dentista coisa nenhuma e que quando se fala que este supostamente perdeu a cabeça é porque ele era um tenente metido a besta que enlouqueceu, cismou que era Napoleão Bonaparte, se mandou pra França para matar Maria Antonieta, se casar com Josefina e juntos fazerem a Revolução Francesa.

     Depois de bombardear nossos três personagens com tantas informações "úteis" ao conhecimento da região, despejou os três intelectuais próximo a uma estação ferroviária, aconselhando o passeio de Maria Fumaça, eles embarcaram no charmoso trem e foram logo sendo informados na partida pelo moço do trem (um cidadão branquela, magro, alto e de olhos alucinados): Esta é a única Locomotiva da época do Império Brasileiro que não é movida nem a lenha nem a carvão e sim a Óleo Diesel. Apesar de tudo, a viagem foi bela e logo chegaram à cidade vizinha, foram recebidos pelo guia do grupo, que numa van entulhou 20 pessoas, e aos berros foi logo anunciando orgulhoso: Agora eu vou levar vocês ao local onde aconteceu o matrimônio dos filhos das duas famílias mais ricas, milionárias desta cidade, alí, naquela roda de trilhos onde a Maria Fumaça faz a volta! E para encerrar com chave de ouro o passeio pela sua cidade levou as vinte pessoas para fazer xixi numa fábrica de Estanho, foi emocionante.

     E depois de voltar para a sua cidade origem, nossos três personagens, com certeza não poderão jamais deixar de sair em viagens de férias (Aliás eles vão fazer de tudo para não esquecer as férias de 2009).


     EU HEEIM...!!!???!!!


     Autor: Paulo Renato Lettiere Corrêa (Paulo Lettiere)

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