quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A Luz da Serra (Uma Estória de Amor)

     A Luz da Serra (Uma Estória de Amor)


     Renato, garotinho feliz e participativo, conhecido entre seus colegas como “Natinho”, nascido e criado numa fazendinha de seus pais, localizada no interior de um estado de bela natureza, em uma cidade pacata, ele, sonhador mas responsável, dividia seu tempo entre estudos e ajudar na lida com a terra, mas também não dispensava os lazeres locais e próprios da idade (adorava fazer trilhas através da cadeia de montanhas que circundava a cidade).

     Assim, juntamente com seus amigos, conhecia outras pessoas, lugares e aquela natureza de raro esplendor. Foi aí, neste nascedouro da paz que Natinho viveu e passou a respeitar mais ainda o amor.

     Montanha acima, mata adentro, foi o grupo de jovens, até encontrar uma família que morava a anos e anos naquele lugar, em uma casinha humilde e simpática, junto à uma cachoeira que se esforça para fazer suas águas roncarem, foram eles bem acolhidos por aquela família (composta de um casal e seus dois filhos), curiosa para saber notícias da cidade grande (já que vivia ali e quase nunca tinha necessidade de ir à cidade).

     Acomodaram-se ao redor de uma fogueira que crepitava alegre no quintal da casa e convidaram os visitantes a fazer o mesmo, já que a noite já vinha colorindo a mata de um verde mais escuro e a lua cheia (linda) vinha enchendo o céu com sua luz prateada trazendo junto uma brisa suave e fresca que acariciava os corpos e espíritos, tendo ao fundo a música dos pássaros cantores da floresta em um coral inesquecível.

     E foi ali, trocando idéias, experiências, discutindo mentiras e verdades, que ouviram a mais bela estória de amor daquelas matas. Contou o patriarca daquela unida família em um tom que inspira a verdade:

     “A muito, muito tempo atrás, em uma noite medonhamente escura, a vida de um valente, amado e jovem índio de uma tribo da região teve um trágico fim, pois ao partir para a caça noturna (costume indígena) para conseguir alimento para sua aldeia, em meio à escuridão caiu num grande buraco e morreu. A crença indígena dizia que os bons espíritos dos índios caçadores iam morar na Lua.

     A jovem índia, doce e radiante namorada, ao saber da morte do amado, não lamentou, não chorou, simplesmente morreu. Revelaram os índios da tribo que momentos antes de morrer, a índiazinha balbuciou:

     -A partir de hoje, ninguém mais vai se perder nesta montanha! Contam todas as gerações desde então, que as noites daquela região nunca mais foram escuras, as matas passaram a ser sempre agraciadas pela luz azulada da Lua, e por entre as árvores flutua uma bola de luz, que parece um pedacinho de lua, mostrando o caminho certo aos que precisam de ajuda.”

     Passou rapidamente a noite, pois depois de tantos casos, estórias, contos e lendas compartilhados, adormeceram tarde e acordaram tarde, almoçaram e a conversa continuou durante grande parte do novo dia e então já sentindo saudades daquela família, os jovens partiram mas foram apanhados no meio do caminho de volta à cidade, em plena mata, pelo véu da noite, ficaram preocupados, poderiam se perder, escurecia, mas para surpresa do grupo a lua surgiu soberana, iluminando o caminho. E assim chegaram em segurança à porta da cidade, olharam para trás e viram admirados à poucos metros deles uma esfera de luz, que parada, flutuava, como se estivesse querendo certificar-se de que o grupo havia chegado bem ao seu destino.

     Lembrando-se da estória contada, em silêncio elevaram seus pensamentos agradecendo a ajuda e companhia dos espíritos de luz enquanto a luzinha voltava calmamente para o interior da floresta. Chegaram em casa envoltos pela paz, contaram os acontecimentos às suas famílias, que ouviram respeitosamente, pois todos acreditavam em seus jovens filhos.

     Desde então, fatos idênticos de ajudas nas matas locais são relatados por pessoas idôneas. Até hoje (e torcemos que por todo sempre) podemos observar que naquela pacata cidade o luar é diferente, é lindo e puro o céu, e pelas montanhas, mesmo olhando da cidade podemos ver, lá sobre a mata, a luzinha, vagando tranqüila, enamorada do luar (e ajudando a outros necessitados) preenchendo a atmosfera daquela paisagem com muita paz.


     Autor: Paulo Renato Lettiere Corrêa (Paulo Lettiere)

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